naoquerofalardesexo
Maria Nicanor

misfit toy

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22 abril 2011


Era o dia do nosso suposto encontro. Ele e a minha prima conseguiram que nos deixassem sair depois de almoço e prometemos voltar antes de jantar. 
Perguntava-me se ela viria connosco quando ele a deixou em casa de um amigo nosso e trouxe o carro emprestado. Primeiro fiquei assustada, afinal ele ainda não tem a carta mas ele surpreendeu-me ao dizer que a tinha tirado pouco antes de vir.
Quando dei por mim, estávamos em frente de uma casa com uma fachada antiga que não tinha vestígios de ter chegado a ser utilizada. Faltavam pequenas coisas na construção, portanto determinei que aquela construção nem sequer devia ter obtido um término.
Ele contou-me que quando era pequeno vinha, com o seu já falecido avô, procurar trevos de quatro folhas no terreno daquela casa e que, por isso, esse era um lugar especial para ele e queria partilha-lo comigo.
Saí da beira dele e desatei a correr para o jardim nas traseiras da casa e ajoelhei-me. Ele veio atrás de mim pensando, com certeza, no que teria dito de mal e encontrou-me procurando no meio de muitos trevos, um daqueles magníficos que sofreram uma mutação ficando com as quatro folhas.
Então, pegou-me nos braços e segurou em mim no ar, como se eu fosse feita de papel, só para me baixar de novo e me abraçar.
- És demais, amo-te.
- Miguel, tu conheces-me, eu não me dou bem com esse tipo de "coisas" quando são ditas em voz alta. Portanto, cala-te - disse sorrindo e desatamos a rir- um dia vais dizer isso alguém e só é bonito quando o dizemos apenas "á pessoa", aquela, a única. Essa palavra é como.. é como quando estás a jogar um jogo qualquer e tens apenas uma vida, tens de guarda-la e saber que quando a usares vai ser definitivo, porque senão passa a ser normal dizê-lo e sem significado.  It's like the one life shot.
Retomamos a nossa busca e eu consegui achar um dos desejados trevos de quatro folhas.
- E agora?
- Agora pede um desejo - disse-me.
- Toma, é para ti. Pede tu - entreguei-lhe o pequeno espécime e ele beijou-me.
- Não é preciso, é todo teu. Isto vai sair meio parvo, mas neste momento não tenho nenhum desejo a pedir. Estamos os dois.. aqui. E quanto aquilo do "one life shot" quero dizê-lo agora, porque se.. sabes se.. me acontecer como à Sara e eu morrer amanhã, não quero morrer e sobrar-me uma vida! Arruinaria completamente o jogo!
- Amo-te - dissemos ambos.
- O quê? Aah, eu também, mas.. - disse espantado.
- Oh, tu sabes.. no caso de eu morrer amanhã e não deixar algo por dizer..
16 ♣


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20 abril 2011


«Daydreamer, sitting on the seat, soaking up the sun, he is a real lover feeling up his girl like he's never felt her figure before. A jaw dropper, looks good when he walks, he would be hard to chase but good to catch and he could change the world with his hands behind his back. 
You cand find him sitting on your doorstep, waiting for the surprise. It will feel like he's been there for hours and you can't tell that he'll be there for life. With eyes that make you melt, he lends his coat for shelter because he's there for you when he shouldn't be. But he stays all the same, waits for you and then sees you through.»  Adele

Não o poderia ter dito melhor, M.
7 ♣


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18 abril 2011


Naquele dia, depois de te levar a "casa" ficamos a conversar e esclarecemos tudo. Falamos de coisas que pensei que nunca falaríamos, falamos dela, falamos do que estávamos a sentir em relação à sua morte, recordamos momentos..
Lembraste-te de quando ela ligou a música na rua, quando estávamos todos à beira da escola, e tu começaste a dançar comigo. Essa foi a primeira vez em que pensei que, talvez tu não fosses assim tão arrogante e parvo. Lembraste-te de que ela começou a cantar a música aos berros e que tivemos de fazer uma intervenção antes que toda a gente ficasse pasmada a olhar, mas ela era teimosa e veio a cantar o tempo inteiro até chegarmos a casa. Ela cantava tão mal que até doía, mas mesmo assim não se importava.
Enquanto me contavas isto agarraste-me na mão e disseste:
"Tu não reparaste, mas ela distorceu a letra da música enquanto cantava a Superhuman. Ela disse: But in this moment I believe, you will fall for each other eventually. Ela gostava de ter razão, e tinha."
9 ♣


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17 abril 2011


Ele chegou à beira dela no aeroporto e beijou-a. Não a deixou falar, queixar-se ou dizer alguma coisa, beijou-a simplesmente.
Depois abraçou-a e olhou para ela bastantes vezes, como se quisesse captar uma imagem para se lembrar mais tarde, e sussurrou-lhe ao ouvido: "Sai comigo amanhã."
-Porquê? - perguntou ela.
-Mera casualidade.. - encolheu os ombros e segundos depois, subitamente sorriu- It's a date.
É nestes momentos que eu agradeço que a minha mãe espere no carro.
14 ♣


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11 abril 2011


Estava tão cansada, tão farta, havia momentos em que parecia que estava a entrar em depressão mas depois, recompunha-se quando entrava alguém e sorria. Quando somos bons a sorrir as pessoas não percebem, não percebem o quão mentiroso aquele sorriso pode ser. Ela era boa a sorrir.
O pensamento invadia a sua mente: Ele, como sempre. E, então perguntava-se quando o voltaria a ver. Nunca.
Ele havia-lhe dito que se ia embora no próprio dia em que partira e não se haviam despedido, não o quis. Ele nunca lhe dissera adeus nem lhe havia dado um beijo de despedida para que ela pudesse saber em que estado estavam.
Ele era inconstante, ela esperava, magoada.
Parecia que ele já não se lembrava de como a tinha amado antes, ela rezava para que ele se lembrasse. Quando havia sido a última vez que ele pensara nela? Teria-a esquecido por completo?
Precisava dele, precisara sempre, mas só agora tinha percebido a verdadeira razão dessa necessidade. Amava-o.
E foi quando o telefone tocou. Ele estava de volta e ela, pela primeira vez, não gritou nem explodiu, apenas disse:
«- A que horas chega o voo?»
19 ♣


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