Vi-te ao longe junto ao cais e os meus pés começaram a andar sem consentimento, não que eu quisesse ir, o meu coração é que queria. Queria saber o porquê de teres escolhido tal profissão. Poderias ter sido professor, contabilista ou mesmo astrónomo (foste tu que me ensinaste a ler as estrelas), mas não! O mar, o teu belo mar, era o mar o senhor do teu ser, o dono da tua vontade. Quiseste velejar, e fizeste-o durante tanto tempo! mas depois o dinheiro de filho abastado terminou e penso ter sido esse o tempo que passaste mais em terra. Mil te ofereceram trabalho e mil tu recusaste. Acalmavas-me dizendo que tudo iria melhorar, que o mar trazia esperança, mas eu não creio no mar como tu, para mim o mar é só água e nem é daquela que dá para beber. Então um dia, foste à praia falar com uns pescadores e vi-te partir no dia seguinte. Sete anos se passaram, sete anos, sete meses, onze dias e durante este tempo pouco era o tempo que a cidade te via. E eu, o teu amor, esperei aqui por cartas tuas que sempre me sabem a tão pouco! Quando estás comigo, o meu coração esquece a dor e a mágoa dos muitos meses em que não estás, mas eu vejo nos teus olhos, os teus olhos nunca brilharam quando olhas para mim como quando olhas para o mar e, como posso eu, ser humano tão inútil competir por amor contra a natureza? Não posso, por isso cuido de ti enquanto aqui estás e vejo-te amar o mar pela janela ao amanhecer e durante o resto do dia. Digo-te para pegares no barco e ires, porque não tenho força para aguentar a tua tristeza e a minha e tu pedes-me desculpa parecendo preocupares-te comigo durante um pouco mas depois sorris e corres para a imensidão, e eu fico aqui à espera, mais uma vez, esperando que a tua amada corrente não te abrace e fiques para sempre prisioneiro da tua paixão.
Estás a acorrentar o barco e eu que queria dizer-te o que a saudade sente, calo-me por entre salpicos de água e pergunto-me por quanto tempo ficarás desta vez.